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Inquisição e Condenações por bruxaria em Vigia





A Inquisição da Igreja Católica Romana foi a maior desgraça que ocorreu na história da humanidade. Em nome de Jesus Cristo, sacerdotes católicos montaram um esquema gigantesco para matar todos os "hereges" na Europa. A heresia era definida da forma como Roma quisesse definir; isso abrangia desde pessoas que discordavam da política oficial, aos filósofos herméticos, judeus, bruxas, e os reformadores protestantes.A inquisição no Grão-Pará não tinha tempo pré-determinado e tinha um caráter de espetáculo. Seu objetivo era marcar a presença do tribunal naquela região, tornando visível o aparelho inquisitorial e fazendo com que as pessoas se sentissem vigiadas. No entanto, havia outras formas de controle. No Brasil, a Inquisição contava com homens habilitados para vigiar e denunciar a população. Eram chamados Familiares do Santo Ofício. ASSIM COMO EM PORTUGAL, o Tribunal do Santo Ofício, que investigava e julgava os hereges, fez-se presente no Brasil a partir de 1591, integrando o processo colonizador. Um dos principais alvos eram adeptos de práticas mágico-religiosas indígenas e africanas, como pajelanças, mandingas e rituais de cura, tachados como feitiçarias. Nos séculos XVIII e XIX Vigia recebeu diversas visitas de inquisido-res, gerando várias denúncias. Uma pesquisa de pós-doutoramento realizada na Universidade de Lisboa pelo historiador Antônio Otaviano Vieira Júnior, trouxe a lume informações inéditas sobre a Inquisição no Pará. O pesquisador teve acesso aos documentos do Tribunal de Lisboa sob guarda do Instituto de Arquivo Nacional Torre do Tombo, que revelam quem eram os “espiões” habilitados pelo Santo Ofício e permitem entender por que havia tanto interesse em tornar-se familiar na segunda metade do século XVII. O Tribunal da Inquisição foi extinto no Brasil so-mente em 1891.

VIGIENSES DENUNCIADOS POR FEITIÇARIA EM VIGIA NO SÉCULO XVII
Um dos casos mais relevantes ocorreu no ano de 1754: o administrador de engenho Adrião Pereira de Farias, vigiense, foi acusado de ter feito Pacto com o Demônio, após flagrado com uma carta de oração, em Latim, no cós da bermuda, a qual teria o poder de atrair mulheres e de "fechar" o corpo contra ferimentos. Adrião foi processado, torturado e condenado à prisão, levado para Belém e depois para Portugal. Veja os dados do processo e cópias documentais das condenações.

Carta encontrada com Adrião Pereira de FariasFonte: ANTT/IL Processo 1894, fl 3.
Adrião Ferreira de Passos ou Adrião Pereira de Faria ou Adrião Pereira Simões, cristão velho, natural da Vila da Vigia de Nossa Senhora de Nazaré e residente no Engenho do Sítio de Tapariuaussu, Vila da Vigia, bispado do Pará, casado, exercia as funções de sargento dos auxiliares, administrador de engenho e pescador. Denunciado ao Santo Oficio por Manoel Pacheco sendo preso e levado a Lisboa com chegada em 01 de fevereiro de 1757 sob a acusação de feitiçaria e superstições.
PROCESSO DE ADRIÃO FERREIRA DE PASSOS
NÍVEL DE DESCRIÇÃO
Documento composto
CÓDIGO DE REFERÊNCIA
PT/TT/TSO-IL/028/01894
TIPO DE TÍTULO
Formal
DATAS DE PRODUÇÃO
1754-04-20 a 1766-04-25
DIMENSÃO E SUPORTE
134 fl.; papel
HISTÓRIA CUSTODIAL E ARQUIVÍSTICA
Este documento, juntamente com outros mais, um maço, foram enviados do Brasil e transportados no navio Senhora Santa Ana para o tribunal do Santo Ofício em 24/11/1756 e chegaram a Lisboa a 01/02/1757.
ÂMBITO E CONTEÚDO
Outras formas do nome: Adrião Pereira de Faria, Adrião Pereira Simões
Estatuto social: [cristão-velho]
Crime/Acusação: superstições e feitiçaria
Cargos, funções, actividades: sargento dos auxiliares, administrador de um engenho de aguardente de cana, pescador
Naturalidade: vila da Vigia de Nossa Senhora da Nazaré, bispado do Pará, Brasil
Morada: Engenho do Sítio de Tapariuaussu, termo da vila da Vigia, bispado do Pará, Brasil
Pai: António Pereira de Faria, trabalhador
Mãe: Florência Gomes
Estado civil: casado
Cônjuge: Luísa dos Reis de Carvalho
Data da prisão: 01/02/1757
Sentença: auto-da-fé de 27/08/1758. Abjuração em forma, cárcere e hábito penitencial perpétuo sem remissão, degredo por cinco anos para as galés, penitências espirituais, pagamento de custas.
Contém o auto de denúncia contra o réu e a guia de remessa do mesmo, guia de remessa do réu e de um maço de papéis para o tribunal do Santo Ofício.
COTA ATUAL
Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 1894
EXISTÊNCIA E LOCALIZAÇÃO DE CÓPIAS
Cópia de algumas páginas do processo microfilmada. Portugal, Torre do Tombo, mf. 6014




OUTRO VIGIENSE CONDENADO
Manuel Nunes da Silva, natural e residente da Vila da Vigia, Pará, solteiro, com idade de 28 anos, exercia as funções de ajudante de ordenança na Vila de Vigia. Apresentado ao Santo Oficio em 03 de abril de 1766 sob a acusação de superstição e feitiçarias. O réu já se encontrava preso antes da data de sua apresentação.
PROCESSO DE MANUEL NUNES DA SILVA
NÍVEL DE DESCRIÇÃO
Documento composto
CÓDIGO DE REFERÊNCIA
PT/TT/TSO-IL/028/02702
TIPO DE TÍTULO
Formal
DATAS DE PRODUÇÃO
1766-04-03 a 1773-01-08
DIMENSÃO E SUPORTE
18 fl.; papel
ÂMBITO E CONTEÚDO
Idade: 28 anos
Crime/Acusação: superstição, feitiçarias
Cargos, funções, actividades: ajudante de ordenança em Vigia
Naturalidade: Vigia, Brasil
Morada: Vigia
Pai: Teófilo da Silva
Mãe: Mariana Josefa
Estado civil: solteiro
Data da apresentação: 03/04/1766
Sentença: 21/04/1766, abjuração de leve, penitênciasespirituais.
COTA ATUAL
Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, proc. 2702
Alguns páginas do processo microfilmadas existentes no Instituto de Arquivo Nacional Torre do Tombo





Fonte consultada:
- Santos, Lidiane Vicentina dos. Terra inficcionada : as práticas mágico religiosas indígenas e a Inquisição na Amazônia portuguesa setecentista.UFSJ, São João del-Rei, 2016.
- Arquivo Nacional Torre de Tombo, Lisboa, Portugal.