

O PORTAL DA MEMÓRIA VIGIENSE


Engenhos e Engenhocas



A COLONIZAÇÃO brasileira, o governo portugês repartiu o território em capitanias, cedidas a donatários que, por obrigação, deveriam promover o povoamento e construir engenhos para expandir a produção de açúcar, que tinha alto valor e gerava impostos a serem pagos à Coroa.

Ilustração do Engenho de cana de açúcar com a cobertura de palhoças existente na cidade da Vigia, no período da sua colonização em 1652.


De acordo com o livro, Cordeiro, Paulo. História da Vigia: economia, escravidão e elite agrária (1652-1854). Ananindeua, PA: Cabana, 2021.
As terras localizadas na Província do Maranhão e Grão-Pará, foi doada pelo Rei D. João IV, ao fidalgo português Jorge Gomes Alamo em 1652. Documento registrado em cartório denominado de DOAÇÃO DE TERRAS, contendo 8 léguas de terras em quadrado, entre os rio Mojuim e Tapepoca. . Nele contém deveres e obrigações, tais como a construção de moinho de fabricação de açúcar, construção de igreja, casas e formar uma população. De acordo com documento do Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, os primeiros homens africanos negros escravizados que temos notícia em terras de Vigia datam de 1673 . Nessa época, já havia um engenho de açúcar e seu funcionamento contava com a presença de “muitos negros de Guiné”. O engenho foi construído pelo fundador do povoado, Jorge Gomes de Alamo, e de acordo com as informações desse documento “tem todo o maquinário para a fábrica de outro Engenho”. De modo que estava apenas aguardando a chegada de negros da Guiné ou de Angola . O documento informa ainda, que naquela povoação moravam alguns casais, mas nenhum de outro Estado; e que a mesma possuía uma igreja de taipa, com a presença de um clérigo que ministrava os sacramentos àqueles moradores. Também já havia feitores; um juiz eleito pela Câmara da cidade de Belém do Pará, cerca de 40 casas, gentios e plantações de canaviais. Todos os investimentos no povoado de Vigia foram realizados pelo seu donatário, Jorge Gomes Alamo . Em resposta a uma petição desse donatário ao príncipe regente D. Pedro, em 13 de outubro de 1671, solicitava a autorização para levar índios com intuito de povoar Vigia e trabalhar na “fábrica dos ditos Engenhos, e na lavoura”, pagando-lhes um salário por seus serviços. O parecer favorável veio no dia 20 de julho de 1673, dando-lhes ajuda de custo a Jorge Gomes Alamo, para descer 200 casais de índios para suas terras. Porém, informa que nas cabeceiras de suas terras “baixarão muitos gentios, que fugirão das de São Paulo, e querem viver no Estado do Maranhão”. Informava o donatário que “não há nestas partes notícias de que nas cabeceiras dos Rios do Supp aja alguns gentios, e os que se refere vem fugindo da gente de São Paulo, e em outras mui distante”. Após três anos da petição, em carta no dia 20 de julho de 1673, o governador e capitão-general do Estado do Maranhão, Grão-Pará – Rio Negro, Pedro César de Meneses, para o príncipe regente D. Pedro, dá favorável a Jorge Gomes Alamo “baixar duzentos casais para suas terras” . Ainda no mesmo documento informa que Jorge Gomes Alamo, havia construído uma igreja (taipa), “muitas culturas, Engenhos, e povoação, com casas de brancos, gentios e negros”. A igreja de taipa é mencionada em um documento assinado pelos vereadores da cidade de Vigia, no dia 22 de setembro de 1733, encaminhado ao rei de Portugal, solicitando licença e ajuda com a mão-de-obra indígena para a construção de uma nova igreja. Porque a igreja de taipa construída “nos princípios da fundação” já estava pequena com a grande quantidade de romeiros e devotos que vinham da cidade de Belém, a festividade de Nossa Senhora de Nazaré. Ou seja, a igreja de taipa era no princípio o local onde a imagem de N. S. de Nazaré ficava, imagem está trazida pelos devotos portugueses que vieram com Jorge Gomes Alamo. Após a expulsão dos jesuítas do Grão-Para em 3 de setembro de 1759, na vila de Vigia, em 26 de novembro de 1761, a Igreja Madre de Deus, passa a pertencer à comunidade católica. Então, a imagem e todas os ornamentos e alfaias da Nossa Senhora de Nazaré são transferidos para a igreja que se torna Matriz. Engenhos de fabricação de açúcar e grande parte da produção era mandada para Portugal, plantações de canaviais, com mão-de-obra dos indígenas, igreja de taipa (construção de barro), cerca de 40 casais de brancos, indígenas e homens negros africanos; feitores, juiz (este eleito pela câmara da cidade de Belém do Pará); outras diversas plantações de gêneros alimentícios. Então, no dia 16 de março de 1685, o donatário Jorge Gomes Alamo devolveu suas terras para o rei de Portugal. Permanecendo cerca de 33 anos na frente dos negócios e na construção do Lugar denominada por ele de Vigia (em alusão a vila de Vigia em Portugal), com 8 anos após o abandono do Lugar de Vigia, passa a categoria de Vila em 1693.

Modelo de um engenho movido a água canalizada
Aquarela de Frans Post, 1640. Domínio público.
Para dinamizar essa sistematização, houve a doação de lotes menores, chamados de sesmarias, privilegiando portugueses e corroborando na formação de uma elite agrária, que multiplicou as atividades agrícolas e engenhos, os quais deram origem a vários povoados, fato ocorrido nas cercanias de Vigia, tomando como exemplo a Vila do Cacau, onde se instalou um dos principais engenhos da região.

Ruínas do canal doEngenho Santo Antônio da Campina, na comunidadedo Cacau, localizada na região do Rio Tauapará, atual município de Colares, ex-território de Vigia.Foto: Will Lee Santos
Era necessário grande investimento em maquinário para produzir açúcar nos engenhos; por isso, muitos proprietários optaram por estruturas mais simples, chamadas engenhocas, para a fabricação de aguardente (cachaça), além do aproveitamento de resíduos da cana para outros fins.
Fontes consultadas: ALMEIDA, Wilkler. Tauapará. Vigia, Ed. Indep., 2005. CORDEIRO, Paulo. Sociedade, Cultura e Resistência: Memória e História da Cidade de Vigia. SP: Ed. Filos, 2024.
TRINDADE, Etelvina. O Trabalho nos Engenhos. SP: Atual Editora, 1996